O meu Pai
faleceu há 7 anos.
Enquanto o
meu Pai andava por cá havia discussões acesas entre mim e ele a propósito da
possibilidade de se colocar um ponto final na vida. Estas discussões ocorreram
há muitos anos, ainda o termo “eutanásia” não tinha o significado que hoje tem
(ou que lhe pretendemos atribuir). O meu Pai dizia muitas vezes que “chegando a
uma fase da nossa vida em que andamos por aqui a vegetar, o melhor será
darem-nos uma injeção atrás da orelha como se faz aos animais”.
Nas suas
últimas horas de vida, (o meu Pai tinha Parkinson) ao vê-lo prostrado naquela
cama de hospital, dei comigo a pensar que às tantas ele até tinha razão quanto
à “injeção atrás da orelha” porque não havia dignidade alguma naquele estado
semi-vegetativo.
Acariciei-lhe
a face esquerda e desci as escadas do hospital a pensar que tinha que o ajudar
a partir em paz. Fiz dois telefonemas: um para um familiar e outro para a
Adelina a quem pedi para o ajudar a partir em paz.
O meu Pai
partiu naquela madrugada de 10 de fevereiro de 2011. E penso que o fez
pacificado e INTEIRO.
A vida do
meu Pai foi uma vida cheia: cheia de família, de amigos, de jornais, de
viagens. Cheia também de dificuldades e parca de dinheiro. O meu Pai viveu tudo
quanto um Homem pode viver. Tudo quanto se pode ter de bom e de menos bom. O
meu Pai viveu um casamento apaixonado de quase 56 anos (faltavam dois meses).
Foi um Homem digno e respeitado por todos.
Passados 7
anos sobre a sua partida, continuo a achar que o meu Pai não tinha razão quanto
“à injeção atrás da orelha”.
A dignidade
da vida revela-se também na dignidade com que se parte; e não podem ser
partidos políticos a decidir como e quando e onde tal partida acontecerá. E
deixemo-nos de hipocrisias porque todos nós sabemos a prática corrente dos
hospitais: paulatinamente as “máquinas” vão sendo desligadas e os medicamentos
paulatinamente diminuídos nas doses respetivas.
Muito mais
poderia dizer a respeito da eutanásia mas desejo terminar com a seguinte
história: no dia do funeral do meu Pai, a D. Judite, enfermeira
aposentada e católica convicta e praticante, do alto dos seus setenta e muitos
anos disse-me que “a vida é uma linha reta e infinita. Num determinado momento,
aparece uma pequenina curva e depois a linha continua reta e invencível. A
pequenina curva é a passagem para o outro lado onde tudo continua”.
Acredito que
a vida e a morte são a linha reta da D. Judite e não compete a ninguém a sua
interrupção voluntária, pois, conforme já tive oportunidade de expressar, a
vida é um Dom, Única, Una e Intransmissível.
Quando
encarnamos, o nosso “chip” tem impresso tudo quanto temos que experimentar e
até o modo do nosso regresso à Vida Superior – Determinismo. Obviamente que
temos sempre a possibilidade de escolha – Livre Arbítrio. É inegável! Assim
como é inegável o ajuste de contas!
A semeadura
é livre. A colheita é obrigatória.
Elisabete
Pinho
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