Era uma vez
- Era uma vez um jardim, com muitas plantas de
todas as cores e feitios. Mas era um jardim diferente dos que conhecemos.
Dentre essas plantas, havia uma raça delas, que
tinha a tarefa de, imaginem, regar as outras. A sua função era a de serem os
depósitos da água/alimento de que o resto das plantinhas precisavam. Era a mais
humilde das funções, e a mais nobre também.
Pelas funções que lhe cabiam essas plantas tinham
hastes compridas, que podiam estender a seu bel-prazer até às nuvens, de onde
retiravam o suprimento para encher os seus depósitos.
Reparei então, que no meio do jardim, uma dessas
plantas se destacava, era alta, bela, luminosa e os seus ramos, de tanto
exercício efectuado devido ao seu trabalho, eram mais compridos que os das
outras e que com facilidade adentravam as nuvens, retiravam toda a água que
precisavam, e lá voltavam a fazer o seu trabalho no meio das suas irmãs.
No entanto, essa facilidade e dom que tinha,
começou a fazer-lhe pensar que todas as habitantes do jardim deveriam fazer o
mesmo!
Que fosse cada uma buscar o seu alimento, pois ela
tinha mais que fazer…bem podia aproveitar o seu tempo em explorar mais, pois
quando os seus ramos iam buscar água ela sentia uma paz, uma alegria, uma
felicidade incomparável que provinha do interior das nuvens.
Com o tempo, ia demorando mais tempo em cada
viagem para ir recolher a água, e cada vez, se esticava mais e mais para poder
ver e sentir o que estava para lá do interior das nuvens. E foi-se convencendo
de que o seu lugar era lá, nesse fofo mundo de algodão! Que o seu trabalho no
jardim estava aquém das suas capacidades, que assim como ela, as outras tinham
que crescer por elas próprias e irem recolher o seu alimento.
Os dias passavam, e as hastes da plantinha
esticavam cada vez mais, e o chamado do alto era cada vez mais apelativo.
Nesse entretanto, foi descuidando a sua tarefa de
regar as outras habitantes do jardim, e elas começaram a secar.
Um dia, essa planta despertou com uma estranha
sensação, as suas belas e compridas hastes estavam ressequidas - não tinha
força para as elevar – olhou para o alto, a distância até às nuvens era
intransponível pois ela própria estava mirrada.
Foi então, que voltou os seus olhos para o chão,
para a terra, e reparou em algo para o qual nunca se tinha dado ao trabalho de
ver:
- Naquele jardim, todas as plantas tinham as
suas raízes entrançadas, cada uma com o seu caule e
características únicas, mas a raiz matriz era uma só.
- Apercebeu-se que o suprimento de água que
diariamente trazia para as suas irmãs, as mantinha vivas, mas também vivificava
a raiz comum que era também a dela própria.
- Apercebeu-se também que as outras plantinhas que
estavam ligadas a ela, e que ela deixara de alimentar, estavam já a ser
supridas amorosamente, por outras que tinham as mesmas funções que ela tivera e
que o trabalho e a vida de todas as plantas do jardim tinham funções
diferentes, mas todas elas importantes para o bem comum.
- Apercebeu-se por fim que de tanto se esticar
para chegar ao mundo das nuvens, as suas raízes cederam, desprenderam-se da
raiz comum…por isso, e para isso morria, doando os seus fluidos á terra para de
novo renascer, e numa próxima função, entender que tudo e todos tem a sua
valia, que tudo é Uno.
As nuvens, lá do alto, olharam-na com compaixão.
Com gotinhas de água cristalina a rodearam e
reanimaram, e em coro as suas vozes murmuravam:
Tudo é UNO – Na tua
essência és o Todo –
O Todo está em Ti
O Absoluto é composto por todas as
células de vida
Não Corras Para Ele
– Faz o Caminho Com Ele
Abraço fraterno a todas as plantas do jardim.
A.
Fevereiro 2010
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