A propósito deste tema, (Vale a Pena?) ajudou-me muito a doutrina Espírita a encontrar respostas, bem como para a questão da Eutanásia, pois acho o argumento da importância do “último suspiro” de um espírito muito convincente. Isto sem condenar a tendência de muitas pessoas de perante o sofrimento de um ente querido colocarem a possibilidade de se por termo a uma vida, face ao sofrimento da fase terminal. Também eu já passei pela dor de ver a pessoa que mais amei na vida na cama de um hospital sem qualquer esperança e ver a sua morte como uma bênção, por lhe ter posto termo à dor. E enquanto ela não chegou, desejei-a conscientemente e, na altura, se estivesse ao meu alcance e se me fosse colocada a questão, teria dito aos médicos para porem termo àquele sofrimento sem esperança.
Hoje penso
de outra forma. Desde logo, e recuando de uma forma honesta e sincera mais de
20 anos atrás à cama de hospital onde estava o meu avô, é verdade que era
sincera quando desejava que não queria que ele sofresse devido à doença, assim
pedindo a Deus que o levasse. Mas havia também um desejo egoísta: era-me
insuportável a mim sentir aquela dor e era ao meu sofrimento que também queria
por fim. Hoje sinto que mais importante do que concentrar-nos o nosso querer na
morte que alivia, é pormos todas as nossas forças no alívio desse sofrimento e
por todos os meios que tenhamos ao nosso dispor. E isso é muito mais difícil do
que desligar uma máquina, pois em última análise não é o sofrimento de quem
está doente que é difícil de suportar, mas o nosso de assistirmos impotentes
àquela situação.
Mais do que
no Reiki, foi na doutrina espírita que encontrei respostas a estas questões,
que me fizeram sentir que vale sempre a pena tudo fazer para aliviar a dor até
ao último suspiro, que há-de chegar na altura certa, embora não condene e tenha
toda a compaixão para quem, em situações extremas, sinta que o único alívio
possível é simplesmente pôr-lhe termo, abreviando a morte.
Mas não consigo
deixar de pensar no argumento decisivo do espiritismo, que assenta na
importância redentora do “último suspiro” de um espírito perante a morte, que
está patente em muitos textos como neste: Comunicação feita pelo Espírito de S.
Luís na cidade de Paris, no ano de 1860, durante a elaboração dos livros da
codificação Espírita por Allan Kardec.
“Mesmo que
vocês pensem que o momento final do moribundo tenha chegado, ninguém poderá
dizer com certeza que sua hora terá chegado. Quantas vezes a ciência médica
terrena não já se enganou em previsões de dias de vida para um moribundo?
Disse também
São Luís: Existem muitos casos, que com razão vocês podem considerar
desesperadores. Mas, se não existe nenhuma esperança de retorno definitivo a
vida e a saúde, vocês já não viram incontáveis exemplos de que, no momento de
dar o ultimo suspiro, o doente se reanima, recobra sua lucidez por alguns
instantes? (nós conhecemos como a melhora da morte).
Pois bem,
disse mais São Luís: Essa graça que lhe é concedida pode ser, e é em muitas das
vezes, da maior importância, pois vocês ignoram os pensamentos que o espírito
de um doente agonizante pode ter nos momentos finais da sua agonia e ignoram os
muitos tormentos de sofrimentos futuros, que podem ser poupados em um minuto a
mais de vida, quando o doente tem os seus momentos de arrependimento. Aqueles
instantes podem ser o momento da redenção do espírito e da sua consequente
salvação!
As pessoas
materialistas só vêem o corpo e não dão conta, de que suas almas, não podem
compreender estes momentos e suas consequências. Mas o Espírita, que sabe o que
acontece após a morte, conhece (ou pelo menos deveria conhecer) o valor do
último pensamento.
São Luís nos
esclarece também: Devemos suavizar tanto quanto pudermos os últimos
sofrimentos, mas jamais pensar em encurtar a vida, que seja por apenas um
minuto, pois este minuto pode poupar muitas lágrimas no futuro de todos nós”.
Tenhamos
nós, não a pessoa doente, força e capacidade para aguentar a chegada da sua
hora.
Marta Sobral
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