Meus queridos amigos de jornada.
Uma jornada, que abruptamente deixou de ser de mãos dadas, deixou de possibilitar os abraços energéticos em que nos entregávamos à doce sensação de sentir o amor e a energia de cada um fundir-se à do outro!
Tempo de afetos à flor da pele, do toque, do calor do outro, do sorriso livre sem o disfarce de uma máscara!
Primeiro veio o assombro!.... A incredibilidade... A sensação de que voltou a acontecer!
A China entrou outra vez em desgraça, lá do outro lado do globo. Sabíamos que chegaria cá, como a gripe aviaria, a gripe A, o SARS, com a democrática livre circulação, seria um milagre essa imunidade. Mas nunca pensamos que a sua vinda, tivesse este impacto, uma mudança forte, questionando aquilo que temos como garantido.
Até há pouquíssimo tempo atrás, estávamos todos ( os países) preocupados com a poluição pelos plásticos, com a explosão demográfica e a preocupação com a perspetiva a médio prazo, de falta de espaço e de alimento para toda a população mundial. Os cientistas tentando produzir alimentos em laboratório (produzir proteínas a partir de células animais, para substituir a criação de gado intensiva), com a exploração do lítio, etc., etc....e de repente, o foco do mundo mudou...com a eminencia da morte de uma grande fatia da população mundial...
De repente entramos todos em modo sobrevivência....
Depois Itália, com suas feiras de moda e de calçado, suas cidades turísticas, seu Carnaval de Veneza...
Começamos a perceber as fragilidades humanas perante as decisões políticas e económicas, não podemos fechar as portas pois dependemos uns dos outros, somos bichos sociais, precisamos dos outros para garantir a nossa sobrevivência.
Aí começa o medo....MEDO do desconhecido, medo da falta da ordem habitual das coisas, das pessoas, medo de falhar, de viver a realidade que está acontecendo sucessivamente em todas as outras zonas do planeta, medo que não seja só uma fase, pois ainda não acabou na China, medo do que pode chegar...
Mas e agora....Agora, É já! Agora estamos lidando com o caos, com a desordem das coisas, com a urgência de confiar no outro, mas cheios de motivos para não confiar. Olhamos o outro como um "infetado" o outro olha-nos como se tivéssemos peçonha!
É agora....É real! E resta-nos arregaçar as mangas e lidar com o caos, salvar o humano que existe no outro, que é quase tudo o que existe dele, quando caído numa cama do hospital, reduzido a rins que não funcionam, a pulmões que não se enchem, a fome de ar, e é assim a nossa batalha... humanos que cuidam de humanos, numa distância abismal em que se adivinham apenas as sombras baças dos olhos por detrás dos escafandros da segurança ténue dos que cuidam dos positivos!
Tudo coberto e protegido, protegendo-nos do outro, da sua humanidade, da sua capacidade ainda que involuntária de nos atingir, da sua positividade para o Covid19.
Nunca imaginamos que seria uma excelente noticia, ter um teste negativo.
Mas é preciso coragem...
Agora é o momento de soltar o medo, de encontrar o amor, de recuperar a espiritualidade, aquela que nos pertence e pertenceu por todo o sempre, de orar, de ter fé e esperança.
Agora...só por hoje, é hora de ser grata pelas coisas boas que ainda existem em redor e que minimamente me garantem a estabilidade e a confiança de que tudo vai ficar bem. Porém com a certeza de que nada nem ninguém voltará a ser o mesmo. É hora de olhar da janela as estrelas com um brilho especial e encantador, de ouvir os insetos zunindo quando sentada de olhos fechados no meu pequeno jardim, é hora de estar grata pela primavera que prossegue alheia aos nossos conflitos interiores e ao caos na vida dos humanos, é hora de saborear um bom livro e aquela mensagem de incentivo e apoio da família ou dos amigos que vivem a mesma experiência, a coletiva solidão!
Só por hoje....agora, não vou poupar mais as emoções e os sentimentos, nem sei se haverá depois oportunidade, por isso vos digo, tem sido um privilégio e uma grande honra ser vossa amiga e irmã!
Amo-vos! E sou grata!
Anabela Amaral