Dou por mim sentado com um copo à frente enquanto o tempo passa. A cada gole mato a sede enquanto vejo o copo a ficar vazio. Volto a encher o copo, volto a ter sede e o copo volta a ficar vazio, vezes sem conta, até que a garrafa fica vazia, o copo vazio e resta a memória de como era quando estava “meio-cheio”. Teria sido melhor mantê-lo “meio-cheio” ao invés de ter bebido tudo, tão rápido?! Afinal não bebi a água para “matar a sede”. Quer dizer, no início sim, tinha sede, mas depois não era bem sede, era hábito, talvez vicio. Agora não há água, mas começa a haver sede. Se tivesse sido racional, o copo “meio-cheio” teria durado mais, talvez o suficiente para nunca voltar a ter sede.
- Posso beber? – pergunta um desconhecido que se senta a meu lado.
- Não há mais água. A garrafa está vazia e o copo também. – respondi com um pouco mais de sede.
- Não. O teu copo está cheio, a garrafa também. Tu é que não vês! – retorquiu sorridente.
Fiquei a olhar o copo e a garrafa, incrédulo com o que disse. Perante a minha indignação o ilustre desconhecido afirmou:
- Estão cheios de ar. A cada gole que bebias esvaziavas o copo de água e enchia-lo de ar e a cada copo que esvaziavas enchias a garrafa de ar. Eu quero ar, não água. Afinal sem ar não sobrevivo para encontrar a água que preciso para matar a sede.
A cada copo que se esvazia há outro que se enche. Damos valor ao que não temos, sobretudo depois de deixar de ter, e só valorizamos o que os nossos olhos enxergam. Felizmente a natureza é perfeita e dá-nos o que precisamos sem pedirmos, sem sequer enxergarmos.
“Façam o favor de ser felizes!”
Miguel Lima
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