quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Intuição é ouvir o coração



“Quando temos a intuição ou um sonho de tomar um determinado curso nas nossas vidas e seguimos essa orientação, tornam-se conhecidos certos acontecimentos que nos dão a sensação de serem coincidências mágicas. Sentimo-nos mais vivos e entusiasmados. Os acontecimentos parecem predestinados, como se tivessem mesmo de acontecer”. 
James Redfield, a Décima Revelação.






INTUIÇÃO – Ou a capacidade de ouvir o chamamento do Universo, para agirmos em harmonia com a sua sincronia e reconhecermos o contributo que nos é pedido no fluxo da vida.

- Sabes uma coisa? Acordei com vontade de me oferecer um pequeno luxo: e se fossemos tomar o pequeno-almoço fora?
- Tomar o pequeno-almoço fora? Onde foste buscar essa ideia? Queres que vá aqui ao lado comprar as panquecas e as torradas e tomamos em casa?
- Não, não me perguntes, porque não sei explicar. Apetece-me ir tomar o pequeno almoço fora ….. acordei com isso na ideia.
- Está bem, então onde queres ir?
- Não sei, não faço a mínima ideia …. Não é “ir a um sítio” tomar o pequeno-almoço …. é sair para tomar o pequeno-almoço fora …afinal é domingo, até sabe bem … não sei…..
- Pronto, mas temos que ir a algum sítio! Se é para tomar fora de casa……. Vamos àquele sítio na baixa, das torradas, onde costumamos ir?
- Não, não me parece …. Não sei, não me apetece ir aí …….além disso ainda é cedo e essa loja das torradas só abre às 10h……
- Então onde queres ir? Vamos à Delta?
- Não……não sei ….. olha …. de repente lembrei-me de uma confeitaria em Santa Catarina, onde só lá fui uma vez, há dois anos, tomar o pequeno almoço no dia dos meus anos. Ia a passar, gostei do aspecto e entrei. Gostei muito, mas curiosamente nunca mais lá voltei, mas não sei porquê está a apetecer-me lá ir.
- Então pronto, vamos lá.
Vestimo-nos e saímos para a rua, com a lembrança daquela confeitaria, que mais me parecia saída de uma série da BBC, de um livro da Agatha Christie, com as mesas decoradas por toalhas e os bolos caseiros, a invocarem as lembranças dos odores da cozinha materna ou da avó, em outros domingos da minha infância.
Caminhamos pelas ruas da baixa, reconquistando a cidade aos turistas, ainda adormecidos nas primeiras horas da manhã. Viramos para Santa Catarina e lá estava a montra da confeitaria, decorada pelos bolos acabados de sair do forno, que nos faziam salivar, durante a árdua tarefa de escolher de qual deles ia ser retirada a primeira fatia, para adornar a nossa mesa.
Entramos, tomamos o pequeno almoço, mas apesar dos croissants estaladiços, das fatias dos bolos que partilhamos, continuava a faltar algo….. uma insatisfação que não sabia explicar. Saímos e seguiríamos o nosso caminho, descendo a rua até à Fnac, quando de repente, sem saber porquê atravessei a rua: “Vou só ver aquela montra”.
Na cara dele deu para perceber aquele desespero inato a qualquer homem, quando uma mulher diz que “Só vou ver aquela montra!”. Mas indiferente a essa angústia masculina inata, entrei, sem procurar nada em especial, perguntando-me o que estava a li a fazer, pois aquela loja nem fazia o meu género e não ia lá comprar nada. Saí, ainda sem perceber o que lá tinha ido fazer. Mas já no passeio, dirigindo o olhar para o centro das atenções da conversa de um transeunte com o meu companheiro de jornada, tudo ganhou sentido: uma gaivota magoada aninhava-se no passeio, tentando desviar-se dos passos mais apressados e distraídos dos transeuntes.
“Está aí desde ontem, não se mexe e não sai daí ……”, disse aquele interlocutor, olhando a gaivota ferida no chão. Nessa altura percebi a razão daquele súbito acordar, com vontade de tomar o pequeno-almoço fora: estava ali e fui para ali conduzida, para ajudar aquele animal. Tentei pegar-lhe, para ver se de facto conseguia mover-se ou não, mas perante as tentativas de manter o seu orgulho de ave intacto, com as bicadas que tentava desferir-me, liguei para o Parque Biológico de Avintes e “sim senhora, estamos abertos, pode vir cá trazer a ave, que nós tratamos dela”. Cobria-a com uma toalha como me aconselharam, metia-a na mala do carro e resgatei-a daquela morte anunciada num passeio da baixa, perante a indiferença de tanta gente que ali passou.
E de repente fez-se magia, com uma onda de enorme satisfação a percorrer todo o meu corpo, agradecendo ter reconhecido pela intuição o chamamento que me foi feito, para ser guiada até onde podia ser útil ao Universo.

Marta Sobral



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